Mulheres ao poder na Finlândia

«Há cem anos a Finlândia foi pioneira na Europa ao votar em mulheres deputadas. Há sete elegeu a sua primeira presidente, Tarja Halonen, entretanto reconduzida no cargo. Agora tornou-se o único país do mundo a ter um Governo maioritariamente feminino. O segundo executivo do primeiro-ministro Matti Vanhanen, empossado a 19 de Abril, conta com 12 ministras e oito ministros oriundos de quatro partidos diferentes. É o reflexo de uma sociedade que fez da igualdade de género um dos seus valores mais preciosos. "Todos os partidos finlandeses têm consciência da importância deste princípio. Eles sabem que as mulheres são, politicamente, muito activas no nosso país. Alguns prometeram durante a campanha que iriam aumentar os salários das mulheres mal pagas como é, por exemplo, o caso das enfermeiras que estão em início de carreira", explica ao DN a professora Jaana Kuusipalo, do departamento de Ciência Política da Universidade de Tampere. Neste país, há décadas regido por um consenso centrista, "é a primeira vez que a proporção de mulheres no Governo é de 60% e a de homens de 40%", nota Kuusipalo, lembrando que algumas das pastas mais importantes, como a das Finanças ou a dos Negócios Estrangeiros, permanecem, contudo, nas mãos de homens. O executivo de centro-direita saído das legislativas de Março resulta de uma coligação entre o Partido do Centro, de Vanhanen, Os Verdes, o Partido Coligação Nacional e o Partido do Povo Sueco. Até então, a Finlândia era governada por uma coligação de centro-esquerda."A maioria de mulheres no novo Governo pode ser exemplo na União Europeia, pois representa aquilo por que tantas organizações de mulheres têm lutado", diz a cientista, considerando que este "é mais um passo em frente" em matéria da igualdade de género. Foram, precisamente, os nórdicos que introduziram este princípio na agenda da UE quando a ela aderiram e fizeram com que passasse de um tema exótico a um objectivo claro e prioritário para todos os Estados membros do bloco. "Os nórdicos foram muito mais além, pois foram eles que introduziram as chamadas quotas, em áreas que iam desde as empresas até à vida política", diz ao DN Teresa Moura, vogal do Conselho Directivo do ICEP e antiga secretária de Estado dos Assuntos Europeus no primeiro Governo de António Guterres, o primeiro-ministro socialista que começava os seus discursos com o célebre "portuguesas e portugueses". Na altura, explica, achou mal que a inclusão das mulheres só se desse por obrigação. "Mas os meus colegas nórdicos, sempre muito pragmáticos, explicaram-me que esta era a única forma de forçar algo que depois se tornaria natural. E foi o que aconteceu. Este novo Governo finlandês tem mais mulheres pois, certamente, são as que têm o perfil mais adequado. Não é o feminismo que está aqui em causa." A evolução da igualdade de género está ligada à qualificação e a Finlândia, país que aderiu à UE, em 1995, juntamente com a Suécia e com a Áustria, é conhecida por ser um dos países do mundo com uma mão-de-obra das mais qualificadas. Utilizando este mesmo critério, Teresa Moura diz que, em Portugal, a evolução tem sido natural. "Eu sou mãe de três rapazes e sei que as novas gerações são já muito diferentes. Foram educados num contexto em que a competição entre homens e mulheres é natural." Mesmo assim, admite, o papel das mulheres na sociedade é, inevitavelmente, diferente. "Lembro-me sempre de uma frase que ficou célebre na conferência sobre as mulheres, em Pequim, que dizia que quando se educa um homem educa-se uma pessoa e quando se educa uma mulher educa-se uma família." » PATRÍCIA VIEGAS
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