A Profissão de Enfermagem na DRC do IDT

"A toxicodependência é um fenómeno social complexo e multifacetado, apresentando uma cadeia de dificuldades, quase sempre associadas e simultâneas: familiares, profissionais, socioeconómicas e de saúde. Para prestar cuidados compreensivos e globais a toxicodependentes e apoiar as suas famílias, a Região Centro dispõe de 11 Centros de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) - S.ta Maria da Feira, Aveiro, Viseu, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Peniche, Leiria, Pombal, Figueira da Foz e Coimbra. Os CAT são unidades especializadas de consulta e acompanhamento, dependentes do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), organismo oficial da tutela do Ministério da Saúde. A Delegação Regional do Centro (DRC) do IDT também dispõe de uma Unidade de Desabituação (UD) em Coimbra, com 7 lugares, destinada a internamentos de curta duração para desintoxicação física, e de uma Comunidade Terapêutica (CT) em Coimbra, com 12 lugares de adultos (com ou sem filhos menores) para internamentos prolongados - cerca de um ano. A Enfermagem que praticamos nos Serviços da DRC focaliza as Relações, o domínio mais afectado na Pessoa toxicodependente – RELAÇÕES consigo próprio (valores, emoções, sentimentos, percepções, cognições, Corpo-autoimagem, autoconceito, autoestima), com os Outros, com o Produto, com o Tempo, com o SENTIDO da Vida. As actividades de Enfermagem autónomas consistem em atendimentos-consultas ao Utente e/ou Familiares, centradas na escuta activa, na pedagogia e orientação personalizada para o autocuidado (nutrição, higiene e imagem, sono e repouso, vacinação), no aconselhamento relativo à saúde sexual e reprodutiva, à prevenção dos riscos de contaminação de (sobre)infecções e à orientação e monitorização no tratamento de eventuais doenças físicas e/ou psíquicas associadas à toxicodependência. As actividades de Enfermagem interdependentes dirigem-se maioritariamente à preparação, administração e vigilância dos efeitos dos fármacos específicos - antagonistas e agonistas opiáceos, particularmente o soluto de metadona. As práticas dos Enfermeiros nos CAT, UD e CT não acontecem isoladas do exercício em Equipa Transdisciplinar, em que profissionais de várias disciplinas (Psicologia, Medicina, Enfermagem e Serviço Social), articulados em relações horizontais e em responsabilidade interactiva, cooperam com os diferentes contributos disciplinares para a ELABORAÇÃO, NEGOCIAÇÃO (também com o respectivo Utente e Família), IMPLEMENTAÇÃO e AVALIAÇÃO/REFORMULAÇÃO de um Projecto Terapêutico possível, ajustado a cada situação SINGULAR. A todos os Utentes é reconhecida a capacidade e responsabilidade de conhecer (ou vir a descobrir) e desenvolver as suas partes saudáveis, não afectadas pela conduta toxicodependente. Os Utentes não são abordados como deficientes ou inimputáveis. Por isso respeitamos a sua liberdade de opção, quer esta se dirija a um tratamento que aposte na total exclusão de drogas ou a um mero acompanhamento sanitário visando apenas a minimização dos danos associados ao (ab)uso de droga(s). Exercer Enfermagem Com Pessoas toxicodependentes é trabalhar em simultâneo e de uma forma articulada com a Cabeça, com o Coração e com as Mãos, nas doses necessárias e adequadas a cada contexto particular. Pressupõe o envolvimento humano caloroso e implicado, com honestidade e integridade. A imaginação/criatividade e a descoberta/invenção de soluções – tantas vezes pontuais e exclusivas à situação em causa – são atributos inerentes a esta área de desempenho. A prática de Enfermagem COM Pessoas Toxicodependentes é um desafio constante, aberto a múltiplas possibilidades e, por isso mesmo, gerador de alguma insegurança. Trata-se de um domínio tão desafiador quanto exigente, que anula quaisquer atitudes de indiferença pessoal ou profissional. Desacomoda e desinstala para a vida aqueles que a ela se dedicam, na medida em que nos expõe a testes sistemáticos à nossa coerência interna e externa. Porém, ser Enfermeiro COM Pessoas toxicodependentes é uma profissão muito enriquecedora e gratificante, fértil em experiências e aprendizagens diversificadas. É um exercício que nos ensina a humildade e a interdependência terapêuticas e, esperançosamente, nos mobiliza para o lançamento de pontes e de redes de alianças em solidariedade constante - de preferência ao erguer de muros de preconceitos que (ainda) nos separam". (Maria Ernestina, Enfª. Supervisora do DRC do IDT)
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(Data de publicação: 10-05-05 )