IDT com estatísticas «muito diferentes» das europeias

"O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência afirmou hoje os dados do Observatório Europeu que apontam Portugal como o país com maior incidência de VIH entre Consumidores de Droga Injectável «são muito diferentes» das estimativas portuguesas.
O Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT) divulgou hoje, em Bruxelas, o seu relatório anual sobre o fenómeno da droga na Europa, que coloca Portugal como o Estado-Membro com maior incidência de Sida e transmissão de VIH entre os Consumidores de Droga Injectável (CDI).
No que se refere ao VIH, o relatório do OEDT, que aborda dados de 2005, coloca Portugal como tendo o «mais elevado índice de transmissão entre os CDI, entre os países da UE com dados disponíveis, com 850 novas infecções diagnosticadas naquele ano (2005)».
Em reacção a estes dados, o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, admitiu, em declarações à agência Lusa, que «apesar da evolução favorável nos últimos anos, é verdade que Portugal continua a ser dos países com maior incidência de infecções pelo VIH/Sida», mas sublinhou que os dados apresentados no relatório do OEDT «não são reportados pelo IDT».
«Temos levado demasiado tempo a implementar medidas de redução de danos que sejam eficazes na redução desta infecção. Com a instalação de novos equipamentos, aumentando o rastreio em bairros onde ainda se consome por via injectável a céu aberto, é possível que estes valores venham ainda a subir», considerou.
João Goulão afirmou que a fonte que trabalha estes dados em Portugal é o Centro de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis (CVEDT), que publica semestralmente os dados notificados até aquele momento, sublinhando que no relatório de 30 de Junho de 2007 (que actualiza todos os casos notificados desde 1983) verifica-se que os dados são muito diferentes das estimativas apresentadas pelo OEDT.
«Quanto às novas infecções (portadores assintomáticos), em 2005, de acordo com o CVEDT, foram notificados um total de 816 casos, dos quais 183 eram toxicodependentes. O Relatório do OEDT fala em 85 casos por milhão de habitantes, ou seja, 850 casos no ano, apenas para os toxicodependentes. Mesmo admitindo uma importante sub-notificação, como é possível passar de 183 para 850?», questiona o presidente do OEDT.
Segundo João Goulão, quanto aos casos de Sida a situação «não é tão flagrante, mas também não parece corresponder à realidade».
«O relatório do CVEDT apresenta valores de 304 novos casos de Sida em toxicodependentes em Portugal em 2004, (ou seja, 30 por milhão de habitantes) e em 2005 foram diagnosticados 294 novos casos (ou seja 29,4 por milhão). Também aqui a estimativa de 36 casos por milhão de habitantes nos parece exagerada», argumentou.
Quanto às mortes resultantes da Sida, o presidente do IDT afirma que «parece haver na verdade uma estabilização, pelo menos da relação entre toxicodependentes e não toxicodependentes, com 50 por cento cada».
«Concordamos com o comentário. Em Portugal é ainda difícil o acesso ao tratamento, que no caso dos toxicodependentes é agravado pela pouca aderência ao mesmo».
No que se refere às mortes relacionadas com os consumos, João Goulão assume que Portugal está ainda perante «um número muito elevado que importa estudar, ainda que os valores apresentados não signifiquem o mesmo para todos os países».
«Na verdade, Portugal está a considerar todos os casos de morte em cujo exame analítico foram encontrados vestígios de consumo de substâncias psicoactivas. Não existe, ou não está demonstrada, uma relação directa causa-efeito. Porém, apesar de o número de exames laboratoriais ter sido alargado, o que pode aumentar o número de casos positivos, a verdade é os valores têm aumentado. Mesmo o decréscimo do último ano é insignificante. Esperamos que inicie uma nova tendência de descida», disse o responsável pelo IDT".
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FONTE: Lusa / SOL (22.Nov.2007)